sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A SEXUALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

A SEXUALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
Por Fernando Melo - Palestra apresentada na UPE

Falar sobre a sexualidade do portador de deficiência física implica necessariamente em abordar o conceito sexualidade humana de forma ampla, em toda sua dimensão, ou seja, abrangendo os aspectos físico-biológicos, socioculturais, econômicos e políticos.
Estudos mostram que a sexualidade masculina é mais centrada nos órgãos genitais (no pênis), diferentemente da sexualidade feminina, que é mais difusa sobre seu corpo. O corpo predominantemente genitalizado do homem pode ser explicado em função de que este, independentemente de classe social, submetido historicamente ao processo de produção, foi canalizado para o trabalho.
Indícios de mudanças aparecem na classe média, na qual este modelo começou a ser rompido a partir do questionamento das relações de gênero, provocando uma maior eqüidade no que se refere ao direito à gratificação sexual e à valorização orgásmica da mulher.
Assim, a sexualidade masculina, como instrumento de dominação e poder, é uma postura sexual alienante. Essa alienação é parte constitutiva das sociedades que valorizam o trabalho em detrimento do prazer, negando o próprio corpo. São formas mascaradas de repressão, apesar da liberação sexual iniciada há três décadas com o advento da pílula anticoncepcional e a ascensão social e política da mulher.
Esses valores atingem de modo severo os portadores de deficiência física (em conseqüência de danos neurológicos). Estes, a despeito das disfunções sexuais presentes em diferentes níveis, quanto à ereção, ejaculação, orgasmo e reprodução, mantêm a sua sexualidade latente, quando entendida no seu conceito ampliado.
Há que se compreender, todavia, que, para o homem portador de deficiência física, tais limitações acarretam o sentimento de que lhe foi tirado o essencial de sua identidade masculina, construída culturalmente sob o significado simbólico do "poder do falo". Conseqüentemente, tiraram desse homem o "seu poder" nas relações sociais e interpessoais. Na mulher, o impacto da deficiência atinge a sexualidade na sua imediaticidade, ou seja, na sua aparência. Seu corpo, objeto de erotização, apresenta deformidades que o distanciam do modelo de "belo" e "perfeito" forjado pela cultura "machista" e pelo marketing das sociedades capitalistas.
Este pano de fundo está implícito na manifestação da sexualidade humana e, como tal, necessita ser aprendido e compreendido pelos profissionais da Saúde, em especial por aqueles que atuam no processo de reabilitação dos portadores de deficiência física. É necessário que se incorporem ações terapêuticas voltadas para a reabilitação sexual dessas pessoas para ajudá-las a superar suas dificuldades, para que possam exercitar sua sexualidade o mais plenamente possível, com a obtenção do prazer físico e psíquico, fatores contribuintes para sua reintegração social saudável.

Problemas sexuais da mulher portadora de deficiência

• Dificuldades de se identificar com o padrão estético de beleza adotado pela maioria.
• Preconceitos de homens frente ao fato da mulher ser portadora de deficiência.
• Medos fantasias e mitos que vem a mulher portadora de deficiência física como frágil, dependente física e emocionalmente, incapaz de sofrer frustrações.
• Imagem sexual desfavorável veiculada pela Mídia.
• Falta de informação sobre a sexualidade da mulher portadora de deficiência.
• Ausência de serviços de orientação sobre prevenção de D.S.T.
• Auto índice de abuso sexual de mulheres portadoras de deficiência. a de serviços de orientação sobre prevenção de D.S.T.
• Vivência de dupla discriminação quando a mulher portadora de deficiência é bissexual ou homossexual.

A sexualidade do homem portador de deficiência física

A qualidade de encontrar-se capacitado para a penetração norteia o homem. Ao se deparar com a dificuldade ou com a incapacidade em penetrar, o sentimento de não estar cumprindo seu papel é misturado ao sentimento de identidade masculina.
Para o homem portador de lesão medular, pode ocorrer o sentimento de que ele perdeu o essencial de sua masculinidade, se sentindo assim, sem o poder nas relações sociais e interpessoais.
Deficientes, incapazes de penetração, podem lançar mão de várias possibilidades de manifestação de sua sexualidade:

A existência do pênis ereto não torna a relação mais sólida;
A incontinência urinária não significa incompetência genital;
A ausência de sensações não significa ausência de sentimentos;
A inabilidade para se mover não significa inabilidade para agradar;
A presença de deformações não significa ausência de desejos;
A inabilidade para o desempenho não significa inabilidade para usufruir;
A perda das funções genitais não significa a perda da SEXUALIDADE”.

Para que o deficiente físico desenvolva um sexo saudável e prazeroso, sem as fantasias de que está perdendo sua identidade masculina, é necessário à aceitação de sua nova imagem corporal, a reestruturação de seu auto-conceito e adaptação às novas circunstâncias. O mais interessante é que cada deficiente resgate a auto-estima e descubra sua maneira de sentir prazer e se realizar.
O mais importante é alertar essa sociedade “deficiente” para o desenvolvimento da inclusão social e reabilitação dessas pessoas. E proporcionar-lhes informações corretas que deficiência física não é doença e sim uma nova condição física. E que elas, continuam sentindo desejos, prazer e muito afeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inúmeras, são as possibilidades de se obter prazer na relação sexual sem penetração. O corpo possui uma gama de órgãos sensíveis, que podem provocar sensações agradáveis, inclusive que a deficiência proporciona abertura para o conhecimento de lugares excitantes desconhecidos.
Muitas vezes homens que não possuem nenhum tipo de deficiência têm pressa em atingir o orgasmo e não dão tanto valor para as preliminares, que para as mulheres, é de extrema importância, para que se consiga chegar ao orgasmo mais rápido.
No caso das pessoas deficientes físicas, verificou-se que este momento pode ser melhor aproveitado pelo casal, visto que não há mais tanta pressa.
O olhar aberto para o diferente é, apenas, a chave da inclusão social.

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