quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Fantasias sexuais

Fantasias sexuais

Fernando Melo*


INTRODUÇÃO

Este estudo tem a pretensão de um dos temas mais extenso e envolvente e permeia o universo do exercício da sexualidade. A fundamentação teórica do mesmo foi possível, com base na bibliografia disponível e que se teve acesso no momento.

FANTASIA, é um tema relativamente explorado por diversos autores, que desenvolvem pesquisas e escrevem sobre suas experiências e descobertas. É um tema fantástico, que não se esgota por si mesmo, principalmente quando se aborda as fantasias sexuais. Considerando-se que uma de suas principais características, é a ausência de limites e a magia que a envolve “dissolve as repressões e restrições da realidade. Como todo imaginário erótico, ele se enfoca na satisfação do prazer”. (PARKER, 1991, p. 169).

FANTASIAS SEXUAIS

Fantasia

A palavra fantasia é originária do grego “phantasía” e do latim “phantasia”. No Dicionário Aurélio, fantasia é definida como: 1. Imaginação. 2. Obra ou criação de imaginação, concepção. 3. Capricho da imaginação; devaneio. 4. Capricho esquisitice, excentricidade... 5. Paráfrase de uma ópera... 6. Vestimenta usada pelos carnavalescos a que imita palhaços, tipos populares, figuras mitológicas, etc... 7. Jóia falsa ou de pouco valor. 8. Assombração, imagem, fantasma. Rasgar e fantasia. Mostrar a verdadeira face de sua personalidade, depois de haver tentado dissimulá-la. (FERREIRA, 1986, p. 757).

Através do Dicionário de Psicologia, verifica-se que a definição de fantasia, está voltada claramente para a: A construção mental consciente de imagens, de eventos ou objetos. Geralmente é uma atividade prazeirosa que pode indicar saúde psicológica e pode ser útil na exploração criativa de possíveis cursos de ação. O conteúdo da fantasia, como sonhos pode refletir importantes conflitos não resolvidos e um excessivo investimento na fantasia indica problemas psicológicos. (STRATTON & HAYES, 1994, p. 103).

Alguns autores colocam que a diferença entre fantasia, devaneio e o sonho, é que quando se está sonhando (durante o sono) não se tem controle consciente do conteúdo. Enquanto que durante a fantasia ou devaneio, é possível criar e recriar cenas, situações, episódios, mudar, tirar, colorir ao
bel-prazer, ou seja de forma consciente. Através da fantasia pode-se reviver situações, comportamentos e experiências satisfatórias e prazeirosas, expressar criatividades, satisfazer os mais variados desejos.

Fantasia Sexuais

Entendidas como: Imagens eróticas de relações sexuais, incluindo variações como encontro homossexuais, sexo grupal ou sadomasoquismo. Estudos indicam que a maioria das pessoas tem sete ou oito dessas fantasias todo dia, e que as mais comuns são substituição do parceiro usual, encontros sexuais forçados e observação de atividades sexuais. Elas não são necessariamente a chave para a orientação sexual básica de uma pessoa, mas podem revelar as necessidades de psicoterapia, como nos casos em que se verificam problemas de intimidade ou obsessão por estupro e imagens sádicas. (GOLDENSON & ANDERSON, 1989, p. 107).

A evocação de cenas eróticas, durante as fantasias sexuais, é o alimento da libido ou seja do desejo sexual. As fantasias podem acompanhar a masturbação solitária, o coito heterossexual e homossexual. Ocorrendo ainda quando se está quieto, Ouvindo música, caminhando e em muitas outras situações. A variedade das fantasias é infinita e diversificada. podem ser construídas sobre Situações imaginárias ou reais. Cada indivíduo constrói as imagens que lhe são mais excitantes e as faz desfilarem por sua mente.

A imaginação não impõe limites. O homem se realiza na fantasia, pois aí, ele reina absoluto. Só acontece o que ele realmente quer e como quer, porque tudo é permitido. “O bonito da fantasia é que ela dá liberdade para experimentar várias situações sexuais, além dos limites da realidade. (HEIMAN & LOPICOLLO, 1992, p. 89).

Mas apesar das fantasias não terem limites, além dos impostos pelo próprio indivíduo, não quer dizer que todas fantasias tornam-se reais. Os indivíduos, em sua grande maioria, têm fantasias sexuais desde a tenra idade, que se prestam a várias funções e a uma variedade de reações, que podem se satisfatórias, embaraçosas, desconcertantes ou até mesmo chocantes.

A criatividade e curiosidade são elementos marcantes da fantasia sexual, em qualquer fase da vida. Se, na infância as fantasias sexuais podem ser vistas como brincadeira após a mesma ocorre ao contrário. Possivelmente esta atitude esta presente porque o sexo é tratado como assunto sério. Como por exemplo, algumas instituições religiosas vêem o pensamento como ação. portanto o indivíduo que têm fantasias sexuais ou desejos quando esta acordando é pecador e necessita de penitência. Como se tivesse praticado a ação.

Os psicanalistas, formaram por algumas décadas o único grupo que se dedicou ao estudo da fantasia. Acreditavam que as fantasias sexuais “desviantes” (as que iam além dos atos heterossexuais), eram expressões imaturas do impulso sexual e eram obstáculos para o desenvolvimento da sexualidade sadia do adulto. Muitos acreditavam que as fantasias sexuais, fossem o início de algum comportamento desviante.

Fazem parte do ato de fantasiar, como já foi anteriormente descrito, a imaginação, a criatividade, a curiosidade e também a diversão. Mas, se a fantasia torna-se uma força controladora da vida de indivíduo, a diversão como elemento pode ser eliminada. A situação torna-se semelhante a do indivíduo viciado em jogo, esporte competitivo e outros, que se deixa dominar completamente, eliminando o lado divertido da situação. Muitas vezes torna-se difícil diferenciar a fantasia do desejo sexual.

A fantasia pode ser aliviada como ficção e irreal, o desejo é real. Em muitas situações a fantasia sexual expressa o desejo sexual, em outras situações provoca o desejo sexual. Mas, não requer que o que se fantasiou, vá se consumar. Como as fantasias não têm limites de cenários, circunstâncias, espaço e tempo muitas vezes são provocadas intencionalmente para passar o tempo; outras vezes para sair do aborrecimento. da rotina e ainda para simplesmente provocar o excitamento. Podem surgir na consciência de forma aparentemente casual, através de pensamentos ou sentimentos sobre os quais se tem pouca consciência e controle.

Normalmente quem está fantasiando quase sempre é o personagem e ou desempenha o papel principal na estória que está se desenvolvendo. Muitas fantasias ocorrem com freqüência e tornam-se preferidas. Podendo ocorrer que o indivíduo tenha preferência por algum tipo de fantasia sexual, porque contribui para a estimulação sexual. Também pode ocorrer que o indivíduo prefira ou sinta prazer em desempenhar o papel de diretor, controlando as cenas, enredo, atores, etc. Este tipo de fantasia devido e sua complexidade, é mais adequada para situações solitárias, do que durante as praticas sexuais. Outros tipos de fantasias sexuais, que também podem ser preferenciais, é a prática de sexo em grupo, sem nenhum personagem específicos ou linha de história ligando uma fantasia a outra.

As fantasias sexuais preferenciais, em duas situações podem se tornar problemáticas. Para alguns indivíduos o uso repetitivo e exclusivo da fantasia leva a uma situação, em que ela se torna indispensável para despertar o desejo sexual. Se o desejo depende só da fantasia, o indivíduo deixa de corresponder a(o) sua(eu) parceira(o). As fantasias sexuais raramente tornam-se obsessivas, a ponto de interferirem no pensamento e no comportamento.
As fantasias obsessivas merecem atenção e orientação específicas, porque interferem diretamente no pensamento e comportamento do indivíduo. Como a curiosidade e a criatividade são elementos fundamentais da fantasia, o desejo de conhecer algo não experienciado, proibido e/ou
inatingível, é com freqüência o ponto-chave das fantasias sexuais.

No que diz respeito à curiosidade, a fantasia pode ser excitante e intrigante, mas também pode incluir cenas completamente fora a realidade. A criatividade nas fantasias não está ligada somente à curiosidade, mas pode também estar vinculada à lembrança de experiência sexual já vivenciada. Comparando o que se passou, a fantasia pode ser melhorada a suavizada: os defeitos, falhas, cansaço e distrações desaparecerem, enquanto o prazer e ação aumentam. O indivíduo que está fantasiando, programa a ação e também as emoções e sensações dos personagens principais.

Na vida real é impossível controlar o caráter ou emoções de alguém. A maioria dos indivíduos acha que as fantasias sexuais são íntimas e privadas, e não as compartilham. No caso de casais, sugere-se que ao compartilhar as fantasias sexuais, os parceiros contribuem entre si para a melhoria dos relacionamentos, porque promove a intimidade e aumenta a compreensão.

Indivíduos com baixos níveis de desejo sexual, tem poucas fantasias sexuais. Estes, podem se beneficiarem de tratamento para formarem fantasias positivas. Algumas vezes as fantasias sexuais são usadas para despertar ou aumentar o desejo sexual. Também são usadas juntamente com a masturbação, e durante as práticas sexuais com parceiros. KAPLAN, em seu livro “A Nova Terapia do Sexo”, faz várias descrições de casos onde fantasias orientadas pelo terapeuta podem funcionar como ajuda para os indivíduos que estão se submetendo à terapia sexual.

As fantasias sexuais podem contribuir de várias maneiras, para a resposta sexual satisfatórias, tanto psicologicamente como fisiologicamente: age contra o aborrecimento; convergem pensamentos e sentimentos; promove a auto-imagem e propicia imaginar o parceiro ideal (ou vários parceiros).

As fantasias sexuais são privadas e fictícias, fornecendo ambiente seguro e protegido para deixar a imaginação e sentimentos vagarem sem limites ou censuras. Podendo também abruptamente serem interrompidas sem se tornarem desconfortáveis ou ameaçadoras. A segurança que tais fantasias não serão descobertas, é o elemento chave para que se dê continuidade às imagens eróticas.

As fantasias sexuais de todos os tipos funcionam como válvulas de escape psicológicas que descarregam tensões ou ansiedades internas, de uma forma relativamente indolor. (MASTERS & JOHNSON, 1988, p. 274).

Durante as fantasias podem surgir situações que contribuam para superar temores e medos infundados ou não, controlar ação e emoção, e ter recompensas por desvantagens pessoais que interferem na vida real. Normalmente surgem fantasias sexuais inoportunas, onde situações ou condutas podem ser consideradas anormais (mesmo sendo excitantes), podendo incluir alguma forma de punição ou dano. Nas fantasias podem ser incluídas aflições físicas como doenças, prisão, maldades e outros.

Algumas fantasias sexuais podem retornar repetidas vezes de boa vontade, mas às vezes apesar de serem invocadas elas retornam e provocam culpa, conflitos, ansiedades, etc. Podendo diminuir ou inibir completamente os sentimentos sexuais. Quando as fantasias sexuais são aflitivas e retornam seguidamente, faz-se necessário orientação e apoio psicológico.
FUNÇÕES DAS FANTASIAS SEXUAIS

A utilização das fantasias sexuais é bem variada, funcionando em diferentes níveis: incentiva a auto-confiança; como válvula de escape para sentimentos reprimidos; aumenta a excitação sexual.

As fantasias sexuais, muitas vezes são meios significativos e importantes que se tem para esclarecer e lidar com confusões e ou conflitos sexuais; uma vez que não costume falar e discutir sobre comportamento sexual. Elas podem ser um canal para antever uma experiência e preparar-se para ver come vai agir. Na adolescência essa situação ocorre com freqüência.

Ao visualizar, certas formas de atividade erótica, permite-se perceber alguns problemas que podem ocorrer. Repetindo uma cena inúmeras vezes, o indivíduo que está fantasiando pode desenvolver melhor a idéia, minimizar dificuldades e dessensibilizar parcialmente para os sentimentos de inadequação, embaraços e surpresas. Se a fantasia torna-se real, muito do imaginado acontece diferente, principalmente em relação a sentimentos, ritmos, cor, som e outras particularidades.

Os valores sexuais e pessoais podem diferir consideravelmente do real e das fantasias sexuais. outros não estão propensos a realizá-las. Alguns fatores que podem ser relevantes para um indivíduo, querer ou não transformar em realidade suas fantasias: (1) quão poderoso é o interesse erótico envolvido. (2) Quão receptivo, digno de confiança e compreensivo se percebe que o parceiro seja, (3) como a pessoa se sente sobre si mesma, e (4) quão inusitada ou bizarra parece a fantasia. (MASTERS & JOHNSON, 1988, p.278).

Ao optar por realizar suas fantasias sexuais o indivíduo. Muitas vezes fica desapontado, pois a transformação da fantasia em fato é insatisfatório, resultando às vezes numa perda significativa do valor erótico da fantasia ou fantasias.

FANTASIA SEXUAL E PROSTITUIÇÃO

Os homens. geralmente procuram os indivíduos de ambos os sexos (principalmente os do sexo feminino), para com eles vivenciarem uma ou várias fantasias sexuais. A situação freguês/prostituto(a) é relativamente segura do ponto de vista psicológico, por algumas razões: o profissional do sexo é alguém experiente, e que não estranha qualquer pedido “diferente”; o relacionamento freguês/ profissional do sexo, é protegido; a privacidade é assegurada e a experiência é isolada das vivências diárias; o relacionamento é primariamente sexual em vez de pessoal; o homem que solicita a um profissional do sexo práticas sexuais “fora do comum”, não arrisca a perda da autoestima ou reputação sexual. se ele pode pagar o preço.

CONTEÚDO DAS FANTASIAS SEXUAIS

Como as fantasias sexuais não tem parâmetros de limite, há uma grande variação em seu conteúdo. que é diferente de indivíduo para indivíduo. As fantasias de experimentação são usadas ás vezes para minimizar o enfastio sexual. Podendo-se visualizar experiências que nunca foram vivenciadas na realidade. Seu conteúdo pode enfocar situações novas, explorar formas incomuns de práticas sexuais. Para alguns indivíduos, a evocação do proibido é importante, para outros o desejo pelo singular ou pelo não experienciado é mais significativo e satisfatório.

O poder é o elemento e a essência de todas fantasias de conquista. É expresso na habilidade para comandar, forçar ou seduzir alguém a manter relacionamento sexual. Se a força física estiver envolvida, a fantasia pode ser classificada como estupro ou sadomasoquismo. A idéia de ser conquistado, dá o tom na fantasia de conquista. Os papéis que podem ser assumidos neste tipo de fantasia são variados e inúmeros. A dominação/humilhação, também fazem para da fantasia de conquista/conquistado. Além do poder, as circunstâncias criadas podem ser embaraçosas ou deprimentes.

As fantasias sexuais com um parceiro diferente é a mais comum das fantasias. O imaginado pode ser alguém conhecido anteriormente ou alguém considerado desejável. O sexo com celebridades, é um subtipo de fantasia, troca de parceiro. O sexo em grupo é outro tipo de fantasia que se enquadra como troca de parceiros. podendo envolver orgias bem elaboradas, amigos, profissionais do sexo, práticas sexuais hetero e/ou homossexual.

As fantasias de observação, também são relativamente comuns. O indivíduo que tem este tipo de fantasia, normalmente não participa da ação. Estas fantasias são comuns entre conjugues, onde uns dos dois fantasia o outro realizando práticas sexuais com outro parceiro. As fantasias de estupro ocorrem mais com a mulher, mas alguns homens heterossexuais fantasiam serem violentados por homossexuais.

Existem, as fantasias romanceadas e mais calmas, onde ocorre encontro com uma pessoa desconhecida em condição e lugar perfeitos; onde desabrocha a atração romântica e acontece o encontro sexual. Depois, cada qual segue seu caminho sem obrigações e felizes. As fantasias sexuais sadomasoquistas, apresentam imagens que envolvem indivíduos sendo amarrados, surrados, chicoteados, sofrendo cócegas, algemados e outras formas de agressão. Força física e dor são elementos presentes nestas fantasias. O poder de excitação está ligado com os protestos da vítima.

DIFERENÇAS ENTRE AS FANTASIAS MASCULINAS E FEMININAS

Pesquisas indicam que os indivíduos de ambos os sexos possuem semelhanças de conteúdo em suas fantasias sexuais. As fantasias femininas são claras explicitas e detalhadas sexualmente. Para ambos os sexos as fantasias sexuais acorrem, mais freqüentemente durante a masturbação, do que durante as práticas sexuais, com parceiro. Mas tanto homens como mulheres usam as fantasias para intensificar a excitação sexual.

Pensava-se que as mulheres não tinham fantasias sexuais, mas inúmeros trabalhos com base em pesquisas, comprovam que as mulheres fantasiam e muito. O conteúdo diferencia em parte em relação ao conteúdo das fantasias masculinas. As mulheres são mais propensas a “romancear” as fantasias, os homens são mais “diretos”, no que diz respeito às questões sexuais. Mesmo assim, estão presentes nas fantasias de ambos os sexos, ingredientes ligados ao poder, sedução, conquistas e outros.

[1] Texto apresentado na Especialização em Sexualidade Humana pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente texto,
e me ajudou muito de forma esclarecedora
pesquisei varios textos, bons,
este foi o mais completo e abrangente.